Espírito: Emmanuel
Livro - 015 / Ano - 1942 / Editora - FEB
Romance apontado por Chico Xavier como o mais belo e
emocionante livro por ele psicografado. Recorda as lutas e testemunhas por que
passou Paulo de Tarso na tarefa de divulgação do cristianismo.
Quem era Paulo de Tarso? Um fariseu fanático, obstinado
perseguidor de cristãos e da nascente doutrina cristã? Ou um ser predestinado
por determinação divina, que recebeu a dádiva da aparição de Jesus, em gloriosa
visão às portas da cidade de Damasco, convertendo-se ao Cristianismo? A leitura
deste livro nos mostrará a grandeza de Paulo de Tarso. Corajoso, intrépido e
sincero que, arrependido de uma postura radical que culminou no apedrejamento
de Estêvão - o primeiro mártir do Cristianismo -, humildemente empreendeu
acelerada revisão de conceitos e atendeu ao chamado de Jesus. Entre
perseguições, enfermidades, zombarias, desilusões, deserções de companheiros,
pedradas, açoites e encarceramentos, transformou sua vida num exemplo de
trabalho através de dezenas de anos de luta, empenhado em abrir igrejas cristãs
e dar-lhes assistência. Em algum ponto da vida todos recebemos um chamado do
Cristo. Que temos feito? PAULO E ESTÊVÃO fará você compreender como o amor apaga
a multidão de faltas cometidas.
Breve Notícia
Não são poucos os trabalhos que correm mundo, relativamente
à tarefa gloriosa do Apóstolo dos gentios. É justo, pois, esperarmos a
interrogativa: - Por que mais um livro sobre Paulo de Tarso? Homenagem ao
grande trabalhador do Evangelho ou informações mais detalhadas de sua vida?
Quanto à primeira hipótese, somos dos primeiros a reconhecer que o convertido
de Damasco não necessita de nossas mesquinhas homenagens; e quanto à segunda,
responderemos afirmativamente para atingir os fins a que nos propomos,
transferindo ao papel humano, com os recursos possíveis, alguma coisa das
tradições do plano espiritual acerca dos trabalhos confiados ao grande amigo
dos gentios. Nosso escopo essencial não poderia ser apenas rememorar passagens
sublimes dos tempos apostólicos, e sim apresentar, antes de tudo, a figura do
cooperador fiel, na sua legítima feição de homem transformado por Jesus-Cristo
e atento ao divino ministério. Esclarecemos, ainda, que não é nosso propósito
levantar apenas uma biografia romanceada. O mundo está repleto dessas fichas
educativas, com referência aos seus vultos mais notáveis. Nosso melhor e mais
sincero desejo é recordar as lutas acerbas e os ásperos testemunhos de um
coração extraordinário, que se levantou das lutas humanas para seguir os passos
do Mestre, num esforço incessante. As igrejas amornecidas da atualidade e os
falsos desejos dos crentes, nos diversos setores do Cristianismo, justificam as
nossas intenções. Em toda parte há tendências à ociosidade do espírito e
manifestações de menor esforço. Muitos discípulos disputam as prerrogativas de
Estado, enquanto outros, distanciados voluntariamente do trabalho justo,
suplicam a proteção sobrenatural do Céu. Templos e devotos entregam-se, gostosamente,
às situações acomodatícias, preferindo as dominações e regalos de ordem
material. Observando esse panorama sentimental é útil recordarmos a figura
inesquecível do Apóstolo generoso. Muitos comentaram a vida de Paulo; mas,
quando não lhe atribuíram certos títulos de favor, gratuitos do Céu,
apresentaram-no como um fanático de coração ressequido. Para uns, ele foi um
santo por predestinação, a quem Jesus apareceu, numa operação mecânica da
graça; para outros, foi um espírito arbitrário, absorvente e ríspido, inclinado
a combater os companheiros, com vaidade quase cruel. Não nos deteremos nessa
posição extremista. Queremos recordar que Paulo recebeu a dádiva santa da visão
gloriosa do Mestre, às portas de Damasco, mas não podemos esquecer a declaração
de Jesus relativa ao sofrimento que o aguardava, por amor ao seu nome. Certo é
que o inolvidável tecelão trazia o seu ministério divino; mas, quem estará no
mundo sem um ministério de Deus? Muita gente dirá que desconhece a própria
tarefa, que é insciente a tal respeito, mas nós poderemos responder que, além
da ignorância, há desatenção e muito capricho pernicioso. Os mais exigentes
advertirão que Paulo recebeu um apelo direto; mas, na verdade, todos os homens
menos rudes têm a sua convocação pessoal ao serviço do Cristo. As formas podem
variar, mas a essência ao apelo é sempre a mesma sutil, inesperadamente; a
maioria, porém, resiste ao chamado generoso do Senhor. Ora, Jesus não é um
mestre de violências e se a figura de Paulo avulta muito mais aos nossos olhos,
é que ele ouviu, negou-se a si mesmo, arrependeu-se, tomou a cruz e seguiu o
Cristo até ao fim de suas tarefas materiais. Entre perseguições, enfermidades,
apodos, zombarias, desilusões, deserções, pedradas, açoites e encarceramentos,
Paulo de Tarso foi um homem intrépido e sincero, caminhando entre as sombras do
mundo, ao encontro do Mestre que se fizera ouvir nas encruzilhadas da sua vida.
Foi muito mais que um predestinado, foi um realizador que trabalhou diariamente
para a luz.
O Mestre chama-o, da sua esfera de claridades imortais.
Paulo tateia na treva das experiências humanas e responde: - Senhor, que queres
que eu faça? Entre ele e Jesus havia um abismo, que o Apóstolo soube transpor
em decênios de luta redentora e constante. Demonstrá-lo, para o exame do quanto
nos compete em trabalho próprio, a fim de ir ao encontro de Jesus, é nosso
objetivo. Outra finalidade deste esforço humilde é reconhecer que o Apóstolo
não poderia chegar a essa possibilidade, em ação isolada no mundo. Sem Estêvão,
não teríamos Paulo de Tarso. O grande mártir do Cristianismo nascente alcançou
influência muito mais vasta na experiência paulina, do que poderíamos imaginar
tão-só pelos textos conhecidos nos estudos terrestres. A vida de ambos está
entrelaçada com misteriosa beleza. A contribuição de Estêvão e de outras
personagens desta história real vem confirmar a necessidade e a universalidade
da lei de cooperação. E, para verificar a amplitude desse conceito, recordemos
que Jesus, cuja misericórdia e poder abrangiam tudo, procurou a companhia de
doze auxiliares, a fim de empreender a renovação do mundo. Aliás, sem
cooperação, não poderia existir amor; e o amor é a força de Deus, que equilibra
o Universo. Desde já, vejo os críticos consultando textos e combinando versículos
para trazerem à tona os erros do nosso tentame singelo. Aos bem-intencionados
agradecemos sinceramente, por conhecer a nossa expressão de criatura falível,
declarando que este livro modesto foi grafado por um Espírito para os que vivam
em espírito; e ao pedantismo dogmático, ou literário, de todos os tempos,
recorremos ao próprio Evangelho para repetir que, se a letra mata, o espírito
vivifica.
Oferecendo, pois, este humilde trabalho aos
nossos irmãos da Terra, formulamos votos para que o exemplo do Grande
Convertido se faça mais claro em nossos corações, a fim de que cada discípulo
possa entender quanto lhe compete trabalhar e sofrer, por amor a Jesus-Cristo.